quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um risco...


Era início dos anos 80, se não me falha a memória.

Eu sentada no DAIU, ou Bar da Filô(sofia), ou seja lá qual o nome que hoje remeta ao bar da UFRGS que fica ao lado da Faculdade de Educação e atrás da Sala Qorpo Santo. Eu tinha em torno de 13 anos, era estudante do Colégio de Aplicação e estava provavelmente ali matando aula. Procurava, com certo sabor de trangressão, alimentar um papel de ovelha negra da família.

Aquelas coisas de pré-adolescente que acha que alienação é tudo de bom, enfim, vai saber que outras bobagens eu pensava na época.

Pois foi ali, neste cenário que apareceu certo dia um cara. Loiro, olhos azuis, alto, cabelos longos. Tinha uma pilha de livrinhos de baixo do braço. Eram suas poesias. Abri o livro, li a primeira página. Dizia assim:

RISCO

Nessas folhas me entrego
e me sujeito a ser ferido.
São coisas pequenas de mim
que eu preciso sejam ditas,
sonhando ouvir respostas (ou ecos).
E se se alguém responder,
ou nos seus olhos ecoar
aflita a compreensão,
saberei sorrir (ou chorar),
só por saber que me entreguei
a quem me possuiu
entendeu e amou,
e não feriu.


Fechei o livro. Comprei.

E nunca mais esqueci este texto. Nem o Ganso. Ganso? Ah é, não contei... O nome do poeta era esse, Paulo Vitor Gans, "mas pode me chamar de Ganso". E chamei. E era uma pessoa encantadora. Ficamos amigos, nos vimos por muito tempo. Até que nos perdemos pelos caminhos. Mas faz parte das minhas lembranças recorrentes que trazem um sorriso no canto da boca. Tem gente que cruza o caminho da gente e marca muito...

E pensar que tudo começou na página um e foi além, muito além da página dois. É bom folhear as páginas das nossas lembranças volta e meia...

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