sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um ator me alegra no Em Cena

"a morte é apenas um momento"

Não que me divirta, no sentido superficial da palavra. Não necessarimente nem sempre. Mas me alegra, me emociona, me cativa, me toma. Por inteiro. Sem pedir licença, me invade carinhosamente.
Quando escolhi as peças para assistir neste festival (e ainda me restam três) tive diversos critérios para eleger um investimento de 130 reais, disposta que estava a me alimentar de arte, referências, exemplos bons e ruins, e por aí afora.
Mas hoje fui abraçada com carinho. Por um cara que respeito demais. Em cena e fora dela. De quem já fui anjo da guarda e que trouxe ao festival um espetáculo com o título mais "irônicamente inteligente" entre todos.
Falo de Antonio Petrin em Só os Doentes do Coração Deveriam ser Atores, peça escrita e dirigida por Eduardo Figueiredo e inspirada no depoimento de um artista polonês cardíaco.
Em cena, um desprendimento e domínio que encantam. Um homem de teatro. Tanta coisa nas entrelinhas, tantas verdades explícitas, tanta verdade no ar. Inteiro. Carinhoso. Gentil e certeiro. Sincero e generoso.
Não tenho muito mais a falar agora, pois me engasgou. Só hoje vi três espetáculos, mas a imagem e voz do Petrin ficaram na minha retina, nos ouvidos, no coração...
Com o tempo, se rolar este impulso falo de outros momentos do Festival, além dos que já escrevi aqui.
Mas nesta noite, fico com os ecos desta atuação brilhante e sutil, intensa e delicada deste ator admirável e com o aconchego do abraço amigo de olhos azuis no camarim.
Saí do teatro como desejo que as pessoas saiam. Tocadas e refletindo. Digerindo, saboreando o momento vivido. Acrescida de um algo inexplicavel verbalmente. Quando se sente, a gente cala.
Muito obrigada por este momento Petrin, tu sim és um anjo, e me sinto abençoada de ter compartilhado mais este momento contigo.
Te aplaudo de pé. E oro por ti. Tu és mesmo iluminado.
Que Dionisos te proteja. Sempre.

domingo, 13 de setembro de 2009

Orgulho, saudade e teatro

Foto: Arquivo ZH
A chuva deixa a gente mais introspectivo e melancólico, a menos que estejamos naqueles primeiros momentos de uma grande paixão onde tudo, absolutamente tudo é de uma cor tão maravilhosa que mesmo as coisas mais cotidianas tornam-se algo poético.
Pois bem. Sexta-feira foi um dia delicado. Um dia vazio. Faltava algo. Era dia 11 e - como já falei aqui - apesar da referência direta ao raio das torres gêmeas (sim, também peguei nojo do acontecido) seria um dia de festejar. Seria o aniversário do meu pai. Teríamos, eu e minha irmã comemorado mais um ano vencido, pois ultimamente nos focávamos em metas curtas, ano a ano. Pensavamos, já há algum tempo, em fazer uma comemoração junto aos jornalistas, para incentivar o pai, e lembra-lo do quanto ele era querido, respeitado, e quantos o consideravam um mestre.
Mas o nosso porteño cansou e quis comemorar de outro jeito, junto amigos queridos que já se foram e certamente, junto à minha mãe. Paciência, ele sempre foi um trangressor mesmo...
No entanto, desde sua partida, homenagens não cessam e neste sábado, dia 12, foi a vez do Luiz Adolfo Lino de Souza, editor de arte dos jornais do grupo RBS e ex-aluno do meu pai, escrever sobre o Bendati no Caderno de Cultura da Zero Hora, numa matéria intitulada "Um poeta do espaço gráfico".

Paralelo a isso, segue o PoA Em Cena, e ontem assisti ao espetáculo Neva, do Grupo Teatro en El Blanco, do Chile. Muito Bom. Ainda que pese questões como ritmo em certos momentos, e ainda que eu acredite que nem todos acompanham o espanhol como eu o faço, tive até o momento gratas surpresas de espetáculos onde o trabalho dos atores, acima de tudo, é louvável. Neva tem, inclusive, uma concepção interessante. A luz - diferenciada - manipulada pelos próprios atores, o espaço de atuação mínimo, enfim. Gostei. Muito. Ouvi questionamentos de amigos que também assistiram quanto ao espetáculo ser direcionado apenas à classe teatral. E fico aqui me perguntando se não seria este - um festival de teatro - o melhor espaço para se apresentar tais espetáculos. Eu ri muito e me emocionei também. Me identifiquei. E também sou platéia. Me pergunto até onde o tema deve ser criticado e até onde cada história posta em cena que retrate esta ou aquela profissão pode ser taxada de elitista ou algo assim. Uns se identificarão mais, outros menos, sempre. Mas se houver verdade no palco, eu não preciso ser cientista nuclear para acompanhar um interrogatório do criador da bomba atômica e me emocionar com seus argumentos*.

Enfim, fico aqui refletindo e de peito aberto para o que virá.

A benção, meu pai.

* Referência ao espetáculo O Caso Oppenheimer de 1985, montagem portoalegrense em parceria com o Instituto Goethe que tinha como protagonista o já falecido ator Pereira Dias.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Je vous remercie de la douleur *

Dominique Blanc em "La Douleur"

Não tenho muitas palavras, só o agradecimento pela oportunidade única de assistir a um ótimo texto interpretado por esta atriz que me deixou no mínimo engasgada. A arte do ator em cena com a complexidade, dignidade e seriedade que eu acredito que deva ter. Uma criação inteligente, profunda, sutil e meticulosa de uma personagem. Um olhar delicado para um tema igual. Aplaudo de pé. Não por ser o festival, onde perde-se a noção e aplaude-se tudo de pé. Faço sem pensar. Num impulso e por respeito e admiração ao espetáculo assistido.

Apesar da falta de noção e de educação da platéia com surtos de tosse descabidos, "agradeço pela dor" do ótimo "La Douleur".

É a minha dica.

A benção, Dominique Blanc.
* agradeço pela dor

domingo, 6 de setembro de 2009

Eu aplaudo no final!

Hoje à noite será a ultima apresentação desta primeira temporada de O Avarento, e uma saudade já invade as entranhas. Primeira temporada, pois espero que tenhamos vida longa com o espetáculo.
E ontem o espetáculo foi especial. Apesar de não ser o mais perfeito tecnicamente, estou falando aqui de energia. Tinha uma energia muito boa no Teatro de Camara ontem e eu saí de lá bem emocionada.
A tempo, recebemos mais um comentário do espetáculo, escrito na noite de ontem pela Helena Mello. Confira.
Ao final da noite, pós janta, no mesmo bar de sempre, fomos tomar um café e fumar um cigarro, eu e o João, e recebemos um carinho especial. Um rapaz se chegou ao "fumódromo" e veio nos agradecer pelo espetáculo. Ele havia assistido a apresentação e estava visivelmente tocado pelo que viu. Mais ou menos nas palavras dele: é importante quando saímos de uma peça "mexidos".
Ele realmente tinha se emocionado com o espetáculo e quis compartilhar isso conosco.
Nossa, fiquei muito sensibilizada.
Mais do que isso, me senti realizada.
Pois é por esse motivo que cometo a insanidade de insistir nessa profissão tão árdua, instável e tão pouco reconhecida.
Por acreditar na possibilidade de transformar a vida das pessoas, transportá-las pra outro universo, compartilhar emoções, refletir, questionar.
E é por isso que agradeço aos colegas do Grupo Farsa e a todos envolvidos neste projeto por este "momento-agora" (como diria Clarice Lispector).
Por estar, mesmo que aos pedaços, me sentindo inteira. Tenho o maior orgulho de nós! E nos sinto muito especiais.
Então vamos lá, ao camarim, ao aquecimento e depois ao palco, encerrar com muita dignidade esta temporada.
Amo vocês! E a vocês ofereço minha maior gratidão!
Beijos perfeitos, impagáveis, cheios de paciência, cumpridores, maravilhosos e um grande abraço, agarradinhos debaixo do capote! hehehe... (amo piadas internas)

Até a noite e MERDA PRA NÓS!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Falem mal, mas falem nós!


É com muito orgulho e uma saudade enorme que toda a equipe do Avarento entra hoje na última semana desta curta e marcante temporada na vida de todos nós. Sim, ouso falar em nome de todos, dos mais "estreantes" ou "novatos" aos mais "experientes". Diga-se de passagem, estes rótulos, por vezes lidos como pejorativos, para mim tem o sentido oposto na maioria das vezes, pois aprendo demais com quem chega ao palco sem vícios de atuação e com o desprendimento e a expontaneidade de quem não tem nada a perder.
Pois bem, e por que seria esta uma temporada tão especial?
Para mim, em meio a uma época bem turbulenta na minha vida, digo que esta montagem foi minha válvula de escape, meu desafio pessoal de mergulhar numa linguagem e personagem que exigiu um bocado. Por que? Porque ela já nasceu (dramaturgicamente falando) rica. Qualquer um que leia o texto vai achar a Frosina engraçada. Ai mulher, e isso é ruim? Não. Graças a Deus é ótimo. Mas te põe numa obrigação. Poxa, se a personagem é boa, eu tenho que fazer dali pra mais. Pelo menos é desse jeito que eu me cobro as coisas.
Isso do meu ponto de vista, ou melhor, da minha personagem. Mas fora isso, tem a linguagem escolhida. O trabalho musical e corporal. Afinal, a escolha era encher o palco com os atores favorecidos com ótimos figurinos e deu. Beijo me liga. A encenação em cima do trabalho do ator. O desafio de colocar um elenco de várias formações musicais (alguns com nenhuma) fazendo um coro pelo menos competente.

E a meu ver conseguimos.

Isto já antes de iniciar o espetáculo. Entre o segundo e o terceiro sinal, quando cantamos fora de cena a nossa música de - vou chamar como eu sinto - "união", desde o primeiro dia me arrepiei. Parabéns elenco. Já cantei em diversos grupos de canto coral, e o resultado que conseguimos, sendo que não somos cantores, é bárbaro.

Mas isso tudo acontece por um motivo. Energia canalizada. Vontade. Crença.

Desde o primeiro dia (mesmo) o nosso Avarento mexeu com as entranhas de muita gente. Uns que adoraram, outros se incomodaram, outros não gostaram mesmo. Que bom! Há vida inteligente na platéia e toda a unanimidade é burra, não é o que dizem?

E que sigam falando. Que botem o verbo para fora. Que todos nós sigamos dizendo a que viemos e porque viemos.

Que se discuta, que se questione, se elogie e critique.

Porque aí sim, estaremos cumprindo nossa função e formando platéias atentas e dispostas a interagir com a nossa arte transformadora.

Aos Avarentos colegas de cena, merda pra nós!

Aos visitantes que por aqui passaram os olhos e quiserem se inteirar do assunto, deixo abaixo os links para acompanharem o que se falou sobre esta montagem que encerra neste final de semana sua temporada no Teatro de Câmara Tulio Piva. Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h.

Antônio Hohlfeldt- Crítica - Jornal do Comércio 04/09/09
artistasgauchos.com.br - por Marcelo Spalding
Douglas Carvalho- Comentário
Gilberto Fonseca- Diretor do espetáculo (contém comentários enviados ao Grupo Farsa)
Marcelo Adams- Comentário
Teatro Sarcáustico - por Daniel Colin
Marcos Chaves- Diretor Musical e Ator do espetáculo
Leia e forme sua opinião, mas acima de tudo, assista!
E aos colegas do Grupo Farsa só posso dizer que no teatro, rola direto, hehehe...
Aplausos pra nós!