domingo, 4 de julho de 2010

Do sol e do efêmero...


Domingo ensolarado. Coisa boa, aconchegante, acalentador.
Estante de livros já bem organizada desde a semana passada, pensamentos viajam... um clic. Os olhos encontram um foco. Na estante um livro, um presente certeiro de uma petit amiga antenada com o que me move.
O livro, uma publicação do SESC/SP sobre o espetáculo Les Éphémères, do Théâtre du Soleil de Ariane Mnouchkine, me remete àquele abençoado dia que assisti a peça no POA Em Cena, alguns anos atrás.
Abro o livro. Como naquelas situações onde se abre livro de mensagens ou pensamentos ao léo, ali estava a reflexão precisa e certeira que viria de encontro às minhas idéias.
Nas palavras de Danilo Santos de Miranda, diretor regional do SESC São Paulo, um texto intitulado "A Poética da Vida", abraça os meus pensamentos... e eu compartilho:

" Numa sociedade em que muitos dos valores se originam por suas oposições - feio e belo, novo e velho, claro e escuro -, perceber o ser humano em sua essência, atualmente, requer um exercício de sensibilidade que a própria dinâmica social, com sua corrida desenfreada, nos impede de desempenhar, um mínimo que seja, cotidianamente.
Nascer e morrer se constituem, assim, os extremos de nossas vidas, como se fosse possível nos espremer entre estes dois verbos sem perceber o recheio que nos faz o que realmente somos, o que construímos, o que amamos. Almejamos, então, as magnitudes, os sucessos inatingíveis, as mudanças extraordinárias, na exacerbação de desejos maiores que podem os nossos sonhos desenhar.
Colocamos tudo nos compartimentos das importâncias. Os atos mais importantes, grandes feitos a serem realizados, guardados à frente, na esperança; e assim, os menos importantes relegados a um passo estreito dentro de nós, às portas do esquecimento. E os instantes que nos fazem ficar de cabeça baixa, o pensamento numa nuvem rala, numa ponta de pó no canto da sala, somam-se a um estado de transe muitas vezes incompreensível aos nossos anseios.
(...) as pequenas coisas, aquelas que se volatizam num piscar de olhos, deixam marcas mais profundas do que o mais grandioso gesto, entram pelos poros enchendo de vida o recheio entre a aurora e o ocaso dos dias.(...) a vida, mais que toda a teoria acumulada e as forças dos discursos, é feita também - e principalmente - de silêncios e simplicidade. (..)
Deixar que o efêmero que nos rodeia se disperse é uma condição da efemeridade. Não esquecê-lo até o ponto de fazer nascer a poética da vida é uma oportunidade gloriosa de sermos cada vez mais humanos."

E num suspiro com um sorriso interno, eu faço o meu silêncio.

Bom final de domingo a todos e todas...
;)

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